A coragem de mudar um comportamento



Mudar de comportamento é um dos desafios mais difíceis que o ser humano enfrenta em sua existência. Todos já tentamos mudar algum hábito ou fazer algo novo e encontramos dificuldades, devido a nossa tendência de repetir as mesmas coisas, o mesmo padrão. A psicanálise diz que tendemos à repetição, mesmo do que seja desagradável, já que aquilo nos é familiar, parece mais fácil trilhar caminhos conhecidos. Mudar caminhos, mudar hábitos, podem nos trazer desconforto, pois os nossos hábitos são padrões de comportamento que o cérebro associa, e a busca de alterá-los pode demandar um grande na criação de novas redes neuronais. O cérebro tenderia a usar tal esforço para aprender coisas novas e não mudar o que já é conhecido.

Existe a nossa tendência de fazer muitas coisas sem refletir nela, como se ligássemos o "piloto automático". Para mudar o hábito, temos que assumir a direção, o que exige mais esforço, e nem sempre somos capazes de visualizar os benefícios. Como o novo pode também nos trazer insegurança, voltamos aos velhos e maus hábitos. Mas isso se aplica a não correr na esteira como havíamos determinado que na semana passada ou ao ódio pelo ex-marido, impedindo que o amor chegue a nossa vida. O que poderia ajudar nesse processo então? Ter as emoções como aliada é citada como um importante fator para conseguir mudar velhos hábitos. Encontrar meios de se motivar, pensar no que é preciso mudar e elaborar um plano para isso. Não adianta propor metas gigantescas se a meta principal o indivíduo não consegue fazer: ter consciência de que o problema “existe”! Quando li a frase de Bert Hellinger – “É mais fácil morrer do que mudar” – eu o achei radical e exagerado. Porém, com o passar dos anos e do trabalho como facilitadora, concordo com ele totalmente.

Pessoas morrem de câncer, mas não deixam o ódio pelo ex-marido abandonar o coração. Mães com filhos psicóticos não enxergam a doença nem com o diagnóstico de vários psiquiatras. Mulheres que não casam, apesar de desejarem com todo o coração um grande amor, porém fogem da possibilidade da mudança – os outros estão sempre errados. Pessoas bipolares que pulam de uma terapia para outra, achando que a próxima será “aquela” que irá lhes curar. Mulheres que vivem na depressão há anos negam a própria dor, pois mudar implica em viver sem “aquela” dor, aquele sofrimento tão conhecido. Pessoas que ao falarem de sua separação tremem como folhas ao vento, mesmo 15 anos após o divórcio, não admitem a raiva que ainda grita em seus corações. Como elas irão viver sem “aquilo”? Como diz a frase de Clarice Lispector: "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

As dificuldades em nossos relacionamentos amorosos, familiares ou profissionais, bem como dependências químicas, comportamentos autodestrutivos; depressões; problemas compulsivos, fobias, vícios e obsessões e traumas, podem estar presos em acontecimentos passados, necessitando um olhar mais amplo e inclusivo para se perceber, reconhecer e buscar a ordem perdida ou o emaranhamento para que os relacionamentos deem certo. É dessa oportunidade que trata a Constelação Familiar, desenvolvida por BERT HELLINGER, há mais de trinta anos. Para que a pessoa consiga “mudar”, deve entender que as ações dos antepassados pode influenciar a vida dela. A constelação familiar é uma técnica terapêutica que põe em evidência o profundo poder de conexão que cada pessoa tem com sua família e também com as pessoas com as quais têm vínculo profundo de amor e lealdade. O que uma geração deixa de resolver é transferido inocente e inconscientemente para as gerações seguintes, que ficam emaranhadas com estas pendências, que na realidade não são de responsabilidade da pessoa.

Existem três consciências que gerenciam os acontecimentos nos sistemas: a consciência pessoal, coletiva e espiritual. Precisamos ver essas diferentes consciências unidas umas às outras, porque todas estão a serviço de nossos relacionamentos. As pendências das gerações anteriores, as injustiças cometidas dentro ou fora do sistema familiar, por meio da violência social e política em todas as suas modalidades, podem, inconscientemente, ser compensadas nas gerações seguintes e afetar a vida de seus familiares com enfermidades inexplicáveis, depressões, suicídios, relações conflituosas, transtornos físicos psíquicos, dificuldade de estabelecer relações duradouras com parceiros, comportamento conflitante com algum membro da família etc. No entanto, o amor que adoece é o mesmo que tem a sabedoria da solução quando se torna consciente. As lealdades invisíveis emergem durante a configuração das Constelações Familiares, ao incluir as pessoas que foram excluídas, esquecidas, difamadas, injustiçadas, denegridas e não honradas no sistema, as que se foram para ceder espaço a outros e as que tiveram destinos trágicos.

Como se quebra a corrente de repetição dos erros cometidos no passado, seja por parente ou pela própria pessoa? O primeiro passo é olhar para a questão e reconhecer que forças atuam ali. Não podemos ignorar o passado. É preciso respeitá-lo. “Aquilo que respeito me liberta, aquilo que nego me aprisiona”. Quando não concordo com o passado, não posso ir adiante porque o passado está dentro de mim. Eu herdei a herança genética ou material dos meus antepassados, mas também  herdei suas experiências, boas ou más, e elas continuam atuando e influenciando meu caminho, quer eu concorde com isso ou não. Quando olho com amor e respeito para os que vieram antes, tomo tudo de bom deles e sigo em frente. Ninguém pode mudar o passado, mas podemos mudar o nosso olhar sobre ele e obter a força contida nele para seguir avante.

Temos que saber que existem ordens que regem nossos relacionamentos. O segundo passo é aprofundar o conhecimento destas ordens. E o terceiro passo é ver o que está em desordem na sua vida/família e colocar tudo nos devidos lugares dentro de você. Em termos práticos, comece por dar um bom lugar aos seus pais no seu coração (respeitá-los com suas histórias). Procure pelos excluídos (todos os que foram desonrados e que não tiveram um bom lugar) de sua família e dê a eles um bom lugar no seu coração. Observe se não está exigindo dos seus pais algo indevidamente e diga a eles de coração: “vocês me deram o suficiente, o resto faço por mim mesmo”. Verifique se há equilíbrio entre o dar e receber na sua relação de parceiros. Estes já sãos bons movimentos de cura.