A palavra trauma
significa ferida. Neste sentido fala-se na medicina por ex. de um traumatismo
craniano. Transferindo este conceito ao nível psíquico podemos falar também de
uma ferida psíquica quando os processos psíquicos tais como: percepção,
sensação, pensamento, memória, imaginação, etc, já não funcionam normal e
saudavelmente. Exemplos: uma pessoa está concentrada e assusta-se com
um ruído e fica banhada em suor de medo
ou os pensamentos de alguém estão continuamente fixados num determinado
acontecimento; ou ainda alguém que já não se consegue lembrar-se de
determinados acontecimentos importantes. Quero referir como exemplos para as causas de um trauma
psíquico: acidentes graves (de carro, de comboio, queda de uma avião,...),
tortura, situações de guerra, violência sexual, etc.
As emoções
provocadas pelo trauma são afastadas da memória consciente. Mas mesmo estando
separadas das ligações nervosas que regulam a consciência de vigília elas ficam
armazenadas nas camadas inferiores do cérebro, sobretudo nas células que estão em contacto neuronal e hormonal com
as regiões do sistema límbico e do cerebelo. Assim, o traço de memória do trauma continua a existir
no corpo todo ou em partes dele, e funciona como uma bomba-relógio psíquico,
com o seu tic-tac próprio. No entanto, numa situação que se pareça com a
situação traumática original se a “camada de defesa” se tornar demasiado fina e
não conseguir evitar que o trauma penetre nas estruturas cerebrais mais
desenvolvidas do neo-córtex e na memória consciente, então existe o perigo de
que a vivência da situação atual se misture com a vivência traumática antiga e
os sentimentos saiam de novo totalmente do controlo.
“A traumatização
psico-social implica feridas que não podem ser enfrentadas unicamente através
da psicoterapia. As ofertas de apoio têm que incluir sempre uma iniciativa
dirigida para as causas das feridas. De facto, se as condições políticas não
são consideradas, o risco de qualquer
trabalho psicoterapêutico não ter efeito é grande.” (Heckl, 2003). O conceito individualizado de trauma também não ajuda a
perceber a sintomatologia psicótica. Neste caso, são de excluir as situações
traumáticas em que uma pessoa que se tornou psicótica pode ela própria ser ferida gravemente a nível
psíquico É por isso que, até hoje, todas as tentativas da psicologia de explicar
as psicoses e de as tratar com sucesso pela psicoterapia, têm dado poucos ou nenhuns resultados. Depois de muitas tentativas teóricas infrutíferas na solução deste enigma só as
constelações familiares me indicaram uma pista
que se tem revelado cada vez mais
válida: num sistema de vinculação psíquica os traumas parecem ser passados de
geração em geração. Nomeadamente as memórias traumáticas dissociadas são
entregues aos descendentes, de forma inconsciente, como uma herança muda. Estas
memórias perduram por três ou quatro gerações e têm uma influência
significativa na psique individual de uma pessoa, mesmo se ela nascer só
dezenas de anos depois do acontecimento traumático ter sucedido.
Franz Ruppert