Na teoria sistêmica de
Bert Hellinger sistema significa um grupo de
pessoas que está unido pelo que o autor chama de destino,
de
maneira que os atos dos indivíduos desse grupo influenciam nos destinos uns dos
outros, inclusive através de gerações. Neste sentido, Bert Hellinger não se
propõe a explicar os porquês dos fenômenos em grupos; restringe-se a informar
suas observações e o modo como soluções foram alcançadas em sua experiência, formulando
teorias gerais a partir do comportamento corriqueiro da dinâmica sistêmica. Todo
indivíduo está necessariamente envolvido em diversas relações interpessoais. As
pessoas com as quais existe um relacionamento mais próximo, tornam-se destino
umas das outras.
Num sistema, todos os membros estão ligados entre si
e deste modo, estão envolvidos numa rede de destinos pessoais. Estes envolvimentos
são inevitáveis, porém uns são especialmente trágicos. Assim, o autor define destino
como
aquilo que mantém os participantes conectados e presos, sem que saibam o motivo.
O significado de destino nesta abordagem aparece também relacionado com tudo o
que é fato, ou seja, com acontecimentos marcantes na vida de uma determinada
pessoa que já aconteceram e por isto não podem ser mudados ou impedidos. No
caso específico de um sistema familiar incluem-se, no nível inferior, os filhos,
seus irmãos e meios-irmãos; em um nível acima estão os pais e seus irmãos e meios-irmãos;
no nível superior a este estão os avós e em alguns casos irmãos e meios-irmãos
destes; raramente, inclui-se ainda um bisavô. Neste grupo, têm especial
influência no sistema pessoas que tiveram um destino funesto – os excluídos
-,
como em casos de participantes que morreram precocemente por aborto, acidente
ou doença, ou que esquecidos ou rejeitados pelo seu grupo por qualquer motivo
(observa-se acontecer com homossexuais, prostitutas ou doentes mentais, por
exemplo).
Além dos participantes
acima referidos, fazem ainda parte do sistema todos os que tiveram que ceder
lugar para a entrada de novos indivíduos – como no caso de relações conjugais
importantes que só puderam ocorrer após o fim de uma outra relação relevante. Assim,
o primeiro cônjuge participa do novo sistema. Também participam mães e pais dos
meios-irmãos. Por fim, estão incluídos no sistema pessoas cujo destino infeliz trouxe
vantagens para um ou mais participantes do grupo, como na situação em que
pessoas se beneficiam com a morte precoce de alguém através de uma herança; o
falecido passa a participar do sistema dos herdeiros. Não estão incluídos na
dinâmica sistêmica os cônjuges dos tios e tias consanguíneos, nem os primos.
Com o desenvolvimento
dos seus trabalhos e suas observações, Hellinger percebeu ainda que pertencem a
um determinado sistema familiar, além dos participantes já mencionados, assassinos
ou vítimas mortais de alguém do grupo. Cria-se uma ligação sistêmica entre as
pessoas envolvidas sempre que há um assassinato. Além do sistema familiar,
podem ser tratados através desta teoria outros tipos de sistemas em que as
vidas se encontram de certa forma entrelaçadas, como numa empresa, uma associação,
ou mesmo um grupo étnico ou simbólico. Obviamente, a dimensão dos entrelaçamentos
ganha e perde força a partir da profundidade dos vínculos, entre os quais os
familiares são geralmente os mais importantes. Em sua prática, Hellinger
trabalha frequentemente com sistemas mais amplos que podem ter grande influência
da vida do indivíduo, como sua terra natal, ou um sistema que represente um
povo ao qual algum ancestral pertencia.
Neste sentido, de
acordo com o pensamento de Hellinger, atua uma ligação sistêmica entre um
indivíduo e sua terra natal que transcende a simples noção de nacionalidade.
Esta conexão não se desfaz mesmo diante de um afastamento prolongado por muitos
anos. Uma separação, mudança ou expulsão do país de origem tem um efeito
similar ao de perder um ente querido da família. Sofrem também consequências
sistêmicas de uma mudança de país os filhos e netos de imigrantes, de maneira
que a terra de origem de seus antepassados representa simbolicamente as suas
raízes e, deste modo, a sua própria ancestralidade. A ligação sistêmica não é um
direito que possa ser concedido ou negado. Todas as pessoas incluídas no sistema
têm o direito de pertencer ao mesmo, independentemente de suas ações. Esta
ligação transcende a moral de merecimento. Por este motivo, se as pessoas do
grupo excluem arbitrariamente algum de seus participantes, desconsiderando seu
direito primário de pertencer ao grupo, este tende a ser representado
posteriormente por algum outro participante; aquele que foi excluído torna-se,
logo, destino para alguma outra pessoa do grupo.
Cristiana Kaipper Dias