Nascemos, vivemos e morremos.
Basicamente, a vida é isso que acontece entre o nascimento e a morte. Mas será
que vivemos mesmo a vida? Nascemos dentro de uma família, de um sistema e
contexto. Acredito que escolhemos a família na qual vamos nascer e a que
sistema vamos pertencer. Então nascemos e fazemos parte daquele sistema. Quando
pensamos em sistema, pensamos em um grupo de coisas, pessoas ou energias que se
influenciam mutuamente. Tudo que faz parte de um sistema pertence a ele,
influencia todo sistema e é influenciado por todo sistema. Isso inclui o
sistema familiar.
O sistema familiar é como um rio,
que vai levando em sua água tudo que passou por ela, influenciando tudo e todos
que se banham nesse rio, cada um que entra nesse rio, tudo que já fez e que
ainda faz parte dele. Tudo que entra nesse rio é levado por ele para sempre.
Por isso, mesmo que algo ou alguém seja excluído, aquela energia continua sendo
levada e influenciando, só que nos casos de exclusão isso se torna mais
problemático. O fato é que somos tão influenciados por esse sistema, que muitas
vezes vivemos o sistema e não apenas o nosso “eu”. Em outras palavras, às vezes
o sistema vive através de nós e especialmente para lembrar daqueles que foram
excluídos ou que viveram qualquer tipo de situação difícil, na tentativa
inconsciente de incluí-los novamente acabamos fazendo escolhas semelhantes às
deles e com isso nos desviamos dos nossos propósitos e da nossa essência.
Isso acontece também porque a
vida acontece em três diferentes níveis: o nível do “eu”, o nível da “alma” ou
da “consciência herdada” (que tem a ver com o nosso sistema familiar e todos os
nossos ancestrais) e o nível do “espírito” ou da “vida” (onde se incluem a
espiritualidade e todas as forças da natureza). Vivemos ao mesmo tempo esses
três níveis e podemos escolher de acordo com os três. Como carregamos nossos
ancestrais dentro de nós, pois estamos todos no mesmo rio e porque estão todos
em nosso mapa astrológico e em nosso DNA, muitas das nossas escolhas são feitas
justamente nesse segundo nível, o nível da consciência herdada. Escolhemos de
acordo com aquilo que mais se ajusta ao nosso sistema, seja pela tentativa de
fazer parte dele ou pela tentativa de reincluir quem foi excluído.
Quando escolhemos tentando
reincluir um antepassado (e claro que isso acontece em um nível inconsciente)
podemos reviver o que ele viveu, para que ele seja lembrado ou porque por amor
estamos carregando por ele. Muitas das nossas escolhas são feitas assim, mesmo
sem nos darmos conta disso. Com isso, escolhemos muitas coisas em desacordo com
o nosso “eu” e sofremos com as consequências disso. Também escolhemos para
pertencer e nesse caso também repetimos as escolhas do sistema. Por exemplo, em
um sistema no qual muitas pessoas foram infelizes no amor ou muitas pessoas
ficaram gravemente doentes, uma pessoa pode inconscientemente pensar que quando
ela é feliz no amor ou é saudável com isso está vivendo um destino diferente e
com isso não está pertencendo, como se isso fosse uma traição ao seu sistema de
origem.
Claro que tudo isso acontece em
um nível muito inconsciente e justamente porque vivemos em uma espécie de
transe, que na verdade pertence ao nosso sistema. É assim que a maioria das
pessoas vive a vida hoje em dia. Seja pela forte conexão que sempre existe com
o sistema seja pela forma como se vive a vida hoje em dia, muita gente vive
como que no piloto automático, reagindo à vida ao invés de viver a vida e
escolhendo pelo sistema ao invés de escolher por si mesmas. E isso gera boa
parte dos nossos problemas. No fundo é como se muitas vezes estivéssemos
assistindo a vida ao invés de viver a vida. E a maior parte das pessoas nem se
dá conta disso. Acontece que estamos vivendo um momento astrológico especial
que não quer mais deixar que isso aconteça. O céu está dando uma espécie de
tranco e nos acordando para a vida. O céu está pedindo para olharmos
atentamente para o que estamos fazendo, o que e como estamos escolhendo, porque
temos que começar a viver e isso se faz cada vez mais urgente. Não simplesmente
viver biologicamente falando, mas viver de verdade. E viver de verdade é estar
presente na própria vida.
Estar presente é estar consciente
e centrado no “eu” com a consciência do “todo”. É viver integrado nos três
níveis, mas consciente do que o “eu” quer e precisa. É viver consciente de que
podemos escolher diferente do nosso sistema e ainda assim pertencer, porque na
verdade quando vivemos verdadeiramente a vida é que estamos honrando o nosso
sistema. Como carregamos todo nosso sistema dentro de nós, nossos ancestrais
continuam vivendo através de nós e quanto mais felicidade, amor, saúde e realização
nós tivermos, mais estamos honrando nosso sistema, nossos ancestrais e a vida
que recebemos deles. Aliás, honrar quem veio antes é honrar a própria vida, é
dizer sim para quem somos e nesse sentido quanto mais aceitarmos nossas
origens, melhor, porque assim podemos receber tudo que vem de bom deles. E vale
lembrar que só estamos aqui, vivos, porque nascemos deste pai e desta mãe, que
por sua vez nasceram dos nossos avós, que nasceram dos nossos bisavós e assim
por diante. Por isso, ao contrário do que inconsciente pensamos e fazemos, é
vivendo bem que estamos honrando e fazendo com que o sistema continue vivo.
Repetir padrões negativos e histórias difíceis não resolvem os problemas
antigos, apenas cria novos problemas.
O que podemos fazer é olhar para
os ancestrais e para nossos pais com carinho (mesmo quando não concordamos com
eles) gratos porque nos deram a vida e lembrar de quem veio antes permitindo
que continuem vivos em nosso coração. E devemos mesmo ser gratos, porque só
estamos aqui porque eles existiram e porque através deles a vida chegou até
nós. Essa gratidão também abre as portas para a presença e a fluidez da vida.
Podemos também seguir nossa vida e nosso próprio destino, conscientes de que
isso não desrespeita quem veio antes na medida em que temos por eles carinho e
respeito. Mas só conseguimos fazer tudo isso se estamos em estado de presença.
Estar em estado de presença é estar fora do transe, é estar consciente de onde
viemos e de quem somos. É estar conscientes a partir do coração sobre o melhor
caminho a seguir, o melhor caminho para o “eu”, para a “alma” e para o
“espírito”.
Thomas Bryson e Ursula Franke
Bryson definem presença em seu livro Trauma, Transe e Transformação: o poder da
presença na prática. “Presença é o contexto estável e abrangente além da
interpretação pessoal limitada da realidade, que considera apenas os termos de
ser bom ou mau para a segurança pessoal e o auto interesse limitado de curto
prazo. Presença é a chave para libertar-se da limitação ao pensamento conceitual
apenas e o retorno ao estado de possibilidade – à criatividade, por meio da
qual tudo pode acontecer, e não simplesmente a interminável repetição do que
aconteceu e foi pensado antes. E a Presença oferece a força necessária para
enfrentar as coisas difíceis que têm limitado o nosso acesso à paz e à
liberdade aqui e agora”
E eles ainda apresentam os
principais aspectos da presença:
* Presença oferece segurança em
face ao medo
* A presença é essencial para a
conexão com nós mesmos, a vida e os outros
* Em um mundo de mudança contínua,
presença proporciona estabilidade e contexto
* Presença é a chave para o
verdadeiro fortalecimento pessoal
* Presença traz uma perspectiva
terapêutica por meio de distância
* Presença permite um retorno à
possibilidade
* Presença dá contexto para o
desenvolvimento a longo prazo
Isso tudo significa que apenas
quando estamos em presença estamos em verdadeira segurança, estamos em contato
com nós mesmos, com os outros e com a vida e só assim, portanto, fazemos boas
escolhas e nos relacionamos bem. Mas por que é tão difícil estar presente? É
difícil, entre outros motivos, porque quando ficamos presentes somos obrigados
a aceitar a vida com ela é e dizer sim para tudo que se passou e isso pode nos
assustar. Quando percebemos as escolhas que já fizemos em transe podemos ter um
choque, porque podemos nos dar conta de como escolhemos até aqui. É difícil
porque dá esse medo de escolher e de fazer diferente. Mas é justamente isso que
temos que fazer. E também fazemos isso pelo nosso sistema, pois a partir do
momento em que incluímos novas informações nesse sistema, estamos contribuindo
com o equilíbrio e a paz de todos que já pertenceram, que pertencem e que
pertencerão ao sistema. Estamos vivendo pelo sistema, trazendo vida para todos
que fazem parte dele.
E estamos então vivendo de
verdade, presentes na própria vida, dizendo sim para a própria vida. Quando
conseguimos fazer isso, quando conseguimos ficar presente na própria vida,
nossas escolhas são mais apropriadas à nossa própria essência e as coisas fluem
muito melhor. Temos força, coragem, segurança, tranquilidade e calma. Sabemos
para onde devemos ir. Sabemos exatamente o que devemos fazer. A vida ganha
qualidade e tudo que fazemos em estado de presença é muito melhor. Os
resultados são diferentes. Somos capazes de conquistar o mundo, de realizar
nossos sonhos, de cumprir o propósito da nossa alma. Quando estamos presentes
também conseguimos nos relacionar, porque uma conexão verdadeira com alguém só
é possível em estado de presença. Isso potencializa os vínculos que temos com o
outro e melhora a qualidade de qualquer relação.
Viver em estado de presença,
escolher e viver presente só tem ganhos. E o mundo precisa saber logo disso,
porque o que mais vemos hoje em dia é gente vivendo no piloto automático,
escolhendo o que é socialmente ou sistemicamente mais aceitável e isso só gera
infelicidade. Basta olhar em volta e perceber o quanto tantas pessoas escolhem
de forma semelhante porque aquilo é socialmente mais esperado e aceito. Basta
olhar e ver como tanta gente hoje em dia é infeliz, vivendo a vida com
frustrações porque poderia ter feito diferente, poderia ter outro trabalho,
outro companheiro, outras opções que escaparam porque não eram a melhor opção
para o sistema ou para a sociedade. Basta olhar em volta e ver a quantidade de
pessoas que só conseguem viver a vida feliz com a ajuda de medicamentos, de
antidepressivos e ansiolíticos tão consumidos hoje em dia. A própria sociedade
favorece esse tipo de vida hoje em dia, porque estamos sempre correndo, porque
precisamos ser práticos, bem-sucedidos. Temos que seguir um padrão, além do
padrão familiar o padrão social. Há muito preconceito, há pressa, falta de
tempo. Não estamos mais em contato direto e verdadeiro com as pessoas, com a
natureza, com nós mesmos. Mas felizmente muita gente também vive em presença e
felizmente também sempre é tempo de mudar.
A vida passou e desperdiçamos
esse bem tão precioso que é a nossa própria vida. A vida é, na verdade, uma
oportunidade, um presente que apenas tem significado quando vivida
significativamente. Viver a vida no piloto automático vai além do estar em
transe, é viver como um zumbi, alguém que vai reagindo e “vivendo” sem
refletir, sem escolher, sem fazer diferente e sem fazer diferença. Só pode fazer
diferença na vida, viver com significado e deixar um legado quem vive em estado
de presença. Quem está vivo de verdade, vivendo a vida com plenitude e
presença. Vamos acordar porque só podemos receber o melhor da vida quando
estamos acordados, despertos, vivos! E a felicidade e a fluidez que vêm daí, só
quem está vivo e presente pode sentir! Esteja presente e seja bem-vindo à sua
própria vida!
Titi Vidal