SEGREDOS DE FAMÍLIA



Existem segredos dentro de uma família que precisam vir à tona. Quando estes segredos são escondidos, isso tem efeito sobre várias pessoas dentro desta família, dentro deste sistema. Por exemplo: quantas crianças existem? Existe ou existiu alguma criança sobre a qual não se fala? Quando isto vem à tona, todos se aliviam. Ou, às vezes, nega-se a uma criança a identidade de seu pai. Todas as crianças têm o direito de saber a identidade de seu pai e de sua mãe! Imaginem uma mãe ter um filho de outro homem e este segredo permanecer oculto, velado. O quanto esta mãe precisa se esforçar para guardar este segredo? Já presenciei algumas constelações onde a mãe que oculta a verdade do filho estava com uma doença mortal e, numa delas, quando a verdade foi revelada o alívio foi tamanho que fiquei sabendo posteriormente que a doença desapareceu! O quanto esta mãe vive este martírio por dias e dias sem fim? Mas engana-se quem pensa que a criança não sabe que há algo escondido. no sistema familiar - esta criança sabe - inconscientemente. Ela não pode dizer que ela percebe! Carrega um peso, portanto.

Mas, por outro lado, existem segredos que precisam ser guardados. Por exemplo, numa situação de guerra: um soldado passou por muitas experiências e também cometeu vários erros. Seu filho lhe indaga o que aconteceu lá. Este segredo deve ser guardado. O pai deve lhe dizer que isso não é de sua conta. Isso é respeito. Todos nós temos segredos que guardamos e não são da conta de ninguém. A mulher tem certos segredos e o homem também tem certos segredos. Se um cônjuge quer saber sobre os relacionamentos anteriores do outro, o relacionamento acaba. Isto não é da conta do outro. Quando um casal respeita os segredos um do outro, mutuamente, cada um se sente seguro com outro, e isto está a serviço do amor. Certas coisas são sagradas. A intimidade de uma relação a dois é sagrada!

Pais que contam aos filhos coisas sobre a relação do casal dá imediatamente ao filho um peso enorme. Estes segredos devem ser guardados. Quando seu pai vir até você contando "sua mãe aprontou tal coisa comigo" corte imediatamente! Funciona muito dizer ao seu pai "pai, você está falando sobre a sua ESPOSA, e com isso não tenho nada a ver. Por favor, não fale mal de sua esposa para mim, afinal você está falando para mim da minha MÃE!" Claro que isso vale igualmente para sua mãe falando mal de seu pai. Toda curiosidade prejudica o relacionamento!

Cristina Maruju

6° Encontro de Constelação Familiar em Florianópolis


O sistema familiar: amor e dor



O sistema familiar ao qual pertencemos atua como uma rede de energia ou “campo” em que tudo e todos estão profundamente entrelaçados. Cada família tem o seu "campo de ressonância" próprio, o que pode ser definido como “alma da família”. Sempre que acontece numa família um evento agradável ou dramático, seus participantes estarão envolvidos física, emocional e espiritualmente.

Quando uma família tenta esconder alguma coisa, um evento criminoso ou traumático, algo desonroso que provocou um profundo sentimento de vergonha e tristeza, essa dor escondida forma a base de um “legado familiar”. Ao tentar excluí-lo ou escondê-lo, o fato toma força e será herdado pelas gerações futuras, que vivenciarão (inconscientemente) a dor dos excluídos, numa tentativa de compensar o sofrimento dos que foram excluídos pela família. Estes "legados" são preservados nas almas dos indivíduos pertencentes à família e na alma da família em forma de memórias coletivas que se repetem muitas vezes dramaticamente idênticas. As datas e a forma do sofrimento ocorrido muitas gerações atrás, são revividos por um bisneto ou uma sobrinha neta que, para “compensar a dor no campo da família” repete a dor do excluído ou do “segredo de família’”. Como exemplo, podemos citar famílias onde várias pessoas morrem de câncer, ou aquelas onde a cada dois anos acontece uma morte ocasionada por acidente no trânsito ou ainda aquelas onde muitos são bipolares ou psicóticos.

Cada família tem sua própria lealdade interna distinta e seu sistema de acerto de contas, e estes servem para equilibrar a dor familiar e para manter "as coisas no lugar". Deste modo a família pode decidir quem manter ou excluir, afastando qualquer coisa que faça a família se sentir em culpa, em perigo ou com um sentimento de vergonha. Quando um grupo familiar viola uma das leis básicas do campo sistêmico, excluindo um membro do grupo ou escondendo um fato importante, tenta evitar responsabilizar-se pelo fato ou viver sentimento de culpa. Mas nada fica sem compensação – absolutamente nada! O sofrimento causado a algum membro da família pode reaparecer em outro momento, e em outra geração que nem conheceu os parentes ou ignora totalmente os fatos. O que a memória da família busca é o equilíbrio do “campo sistêmico”, ou seja, compensar os sofrimentos que continuam a desequilibrar o sistema daqueles indivíduos.  Cada membro de uma família tem importância, mas o campo que os une e lhes deu a vida é mais importante que casa indivíduo. Desta forma, cada geração que nasce, busca inconscientemente compensar as dores dos antepassados e utilizar seus talentos. Alguns legados e heranças podem se tornar a maior força motriz na família, fazendo o seu caminho através de muitas gerações, por vezes, de uma forma devastadora, como em casos de violência física ou sexual, ou em casos de abortos, suicídio ou assassinatos.

Com a terapia de “Constelações Familiares” essa harmonia é restabelecida  proporcionando paz e alívio a todo o sistema da família em questão. Com consciência, amor e utilizando os rituais de inclusão de quem está excluído, pois todos têm o igual direito de pertencer, o sistema fica muito leve. Para encontrar paz e felicidade em nossas famílias, devemos reconhecer a lei que se refere ao equilíbrio entre dar e receber, e respeitar a hierarquia de tempo: os mais antigos vêm primeiro e os mais novos vêm depois. Quando essas regras ou leis são vividas no sistema familiar, será deixado um “legado” leve para os futuros integrantes. Isso significa – saúde, alegria e paz para as próximas gerações.

Tania Rocha
Facilitadora de Psych-k e Constelações Familiares

Quando o amor acaba....



Pergunta para mim mesmo... é que estou vivendo exatamente esta fase do "... e agora"? Sempre vem um monte de perguntas na cabeça, um monte de dúvidas, e emoções intensas afloram como o dragão a sacudir suas asas para fora da caverna. Raiva, ciúme, inveja, sentimento de coitadinho, impotência, decepção... Mas será que é só isso? 

Bem... não vou escrever um texto do tipo "10 dicas para uma separação feliz"... porque seria, em primeiro lugar, uma enganação. Não existe separação feliz. Em segundo lugar, porque cada caso é um caso... Ainda não conheci uma separação como a minha, onde não houve traição, não houve sérios problemas financeiros, não houve brigas homéricas... inclusive, continuo a manter a amizade, o respeito e até o trabalho conjunto com a ex. Foram 15 anos. Dois filhos. Muitas conquistas. Muitas mudanças. Aprendizado infinito. Compramos casas. Descompramos. Criamos empresa. Descriamos. Caminhei pela senda do meu desenvolvimento espiritual... e aí acho que foi o x da questão. Sempre fui muito ligado à espiritualidade. De uma forma mais racional, mas um interesse enorme pelo crescimento da alma. E na minha concepção, o desenvolvimento espiritual incluía a formação de uma família feliz. Uma família feliz, que eu não tive. Aí a coisa pegou. Eu não sabia, mas estava misturando um desejo profundo da alma, que é perceber a realidade de ser e estar uno a Deus, com uma dor profunda da criança emocionalmente ferida, que desejava criar uma família que eu não tive. 

Sim, nasci sem conviver com meu pai. Ele já estava com outra. E minha mãe me deixou aos 4 ou 5 anos. Isso, lógico, sem contar com suas inúmeras ausências e descaso, nos primeiros anos de vida. Eu e meu irmão mais velho fomos criados pelos avós paternos. Ele, esquizofrênico. E eu me achava normal. Minha avó era neurótica, meu avô, omisso e subjugado. Mas somente hoje percebo que, em proporções diferentes, eu era também doente mental. Sim, doente, pois durante 40 anos da minha vida, vivi com a mente emocional presa a este passado. E por isso tentei desesperadamente criar a família feliz. Mas como criar uma família feliz, se eu não estava emocionalmente ligado ao casamento? Eu não era o marido, mas, sim, uma representação do que deveria ser o marido ideal, que eu nem sabia o que era. Também não era pai, mas uma representação do que seria o pai perfeito que eu não tive. Vivendo os fantasmas do passado, nunca me permiti ser eu. Fazia tudo para que a família estivesse unida... sacrifiquei-me o tempo todo para que a esposa estivesse feliz - e ela nunca estava... e assim não destruísse um sonho que, no fundo, era o meu maior pesadelo: uma família unida. Na verdade, havia uma criança lá no fundo, dentro de mim, dizendo: não me abandone novamente, papai. Não me deixe mamãe. Proteja-me papai. 

Hoje, trabalhando com constelação familiar, descobri que eu - ou esta criança interna, estava negando o passado, a família que eu tive, negando meu pai e minha mãe. Estava, de certa maneira, dizendo: não aceito que foi assim! Vou mostrar como é que se faz! Vamos pensar racionalmente: negar uma coisa que foi, que aconteceu, e ainda por cima, criar em cima disso um sonho, não tem como dar certo, né? Em constelação, sabemos que ao negar o pai e a mãe, negamos todas nossas raízes, e aí perdemos a força para a vida. Entendi, a duras custas e cabeçadas na parede, que a vida não se faz nem com negações, nem com sonhos. A vida se faz vivendo aquilo que é, aqui e agora. Se é pão, é pão. Se é pedra, é pedra. Não adianta querer mudar aquilo que é. E isso também é desenvolvimento espiritual. Ao negar aquilo que o Universo me proporcionou como família, estava negando Deus. Ao negar os fatos da infância, alguns realmente muito dolorosos, estava negando a vida. Ao perceber isso, algo em mim iniciou um movimento de resgate. Resgate de mim mesmo. Viver a minha própria vida. Apesar de todas as circunstâncias da vida, sou uma pessoa abençoada. Abençoado, inclusive, por ter encontrado uma mulher que também está em seu caminho espiritual, e possui qualidades incríveis, que muito me auxilia. Abençoado porque finalmente posso dizer: estou me desprendendo da necessidade de me pendurar emocionalmente em alguém. Não posso conceber uma relação onde um está pendurado no outro, e se o outro se ausenta, existe um sofrimento intenso. Isso não é amor, mas uma doença chamada co-dependência. Neste momento, tenho a possibilidade de realmente estar presente nas minhas relações, sejam familiares, sejam profissionais. Estar íntegro e disponível aos meus clientes, ao meu trabalho, e a mim mesmo. Sem desviar energia para ficar ruminando o passado, e nem desviar energia para criar fantasias sobre o futuro. Tudo isso é um processo. Lógico que tem horas que estou mais íntegro, e outras que estou totalmente fora do eixo. O negócio é respeitar o processo, os altos e baixos... porque sinto, claramente, que o equilíbrio lentamente vai se instalando, à medida em que permito que as coisas sejam como elas são. O equilíbrio surge como uma graça, e não como uma imposição mental. Incluindo até meus altos e baixos, permito que eu seja como sou. Com todas as imperfeições. Todas. Com todo o passado. E também com a luz e o brilho que Deus me deu, que no fundo, é a minha única realidade. 

Alex Possato é facilitador sistêmico, consultor e diretor do Nokomando - Desenvolvimento pessoal e espiritual 

O sistema familiar


O trabalho das Constelações Familiares demonstra que não há espaço para pessoas excluídas. A atitude comum que geralmente as famílias assumem perante a sociedade e dentro delas mesmas, de ter uma “postura social” onde fatos como abortos, amores traídos, filhos abandonados, tios esquecidos, etc., são escondidos no porão, não podem ser escondidos do Sistema Familiar e isso leva um outro membro da família a querer resgatar a dor da exclusão em nome de quem deveria ter feito isto antes. Este membro age simplesmente por amor, assim como o membro que excluiu anteriormente foi levado também pelo sistema a ter esta atitude. Não existem culpados. A terapia de Constelação Familiar está plenamente de acordo com as teorias da física quântica e da biologia, onde se mostra que toda a humanidade e em especial os membros de uma família, formam na verdade um único todo indissolúvel. Somos pequenas células de um único organismo e a ideia de que existe separação entre eu e o outro é apenas uma ilusão dos nossos sentidos físicos. 

Amar o próximo como a ti mesmo deixa de ser um postulado religioso e passa a ser uma obrigação para quem deseja a saúde física, financeira, familiar e espiritual. Porém, é importante saber: o amor profundo significa deixar as responsabilidades de cada um com eles mesmos. Querer assumir as responsabilidades de um pai, ou de um filho, ou de um marido, ou ainda, do “coitado da rua”, do menino carente, e assim por diante, não é amor – é desequilíbrio. É necessário confiar no sistema. O nosso papel individual é se equilibrar no sistema, se alguma coisa está incomodando e aceitar absolutamente tudo. “Ninguém é responsável”, diz Hellinger. “Tudo foi guiado por uma força maior. Então, a pessoa deveria dizer: ‘sou uma parte do movimento; não me excluo disso.’ Basta que ela reconheça que também faz parte disso e carrega as consequências, mas sem culpa. Isso nada tem a ver com culpa. A gente não precisa envergonhar-se. Este é um profundo processo de conexão, algo profundamente humano que me abre para outros e tira também do outro a resistência para se encontrar comigo”. Aí, o amor verdadeiro flui.

Aruanan
Consultor e terapeuta