Amor e crise na visão sistêmica



Quando uma relação entra em crise, na verdade ela só está expondo os problemas sistêmicos encubados, que já existiam antes mesmo do casal se conhecer. Trazemos conosco tendências de emoções, pensamentos e comportamentos hereditários, e estas tendências ficam latentes, esperando só o momento para se manifestar. Devido a elas – as emoções latentes, encontramos exatamente o tipo de parceiro ideal para que isso ocorra. Parece maldade do universo, certo? Mas não é. É exatamente o contrário: a natureza humana faz com que, ao manifestarmos esta “combustão” sistêmica, possamos harmonizá-las do nosso sistema familiar. Pois é, herdamos tendências a manifestar determinados comportamentos para que, ao trabalhá-los, eles não ocorram mais, e possamos deixar aos nossos filhos e netos a imunidade. Não sei se isso parece estranho, mas é exatamente assim que ocorre a evolução biológica das espécies. Cada geração que vem, é mais forte que a anterior. Como todos percebem, os homens vivem cada dia mais anos – isso significa que ele se torna forte, a cada geração. E como ele se torna forte? Enfrentando todas as calamidades, doenças, epidemias que surgiram durante os séculos e séculos de existência humana. Somente os fracos sucumbem.

As emoções e pensamentos conflitantes, segundo a teoria sistêmica, também passam por esta depuração. E a linhagem familiar quer, no fundo, que seus descendentes sejam fortes, para que a linhagem se perpetue. Faz sentido, certo? Mas vamos lá: o que tem a ver este papo de gerações mais fortes, emocionalmente, e as crises de relacionamento? Bem, como disse acima, a crise é uma oportunidade de ficarmos fortes emocionalmente. Para se resolver um problema emocional, é necessário olhar para ele. Quando surge uma briga, por mais que a razão diga coisas do tipo: você é insensível! Você me traiu! Você não liga para mim, só para os filhos! Você está com caso com outra! Você está uma balofa! No fundo, tudo isso é desculpa. O que a emoção está dizendo por detrás das acusações? Geralmente, coisas do tipo: quero ser visto; quero carinho; quero que você me abrace e não fale tanto; quero compartilhar…

A busca do ser visto e acolhido é sistêmico. Todos nós temos esta necessidade, e isso é herdado do sistema familiar. Quando não sabemos lidar com esta necessidade, queremos que o parceiro faça isso por nós. E como atraímos exatamente o tipo de parceiro que precisamos para depurar nossas emoções, ele também quer o mesmo de nós. O que acontece quando duas crianças querem o mesmo doce? Podem brigar ou dividir. Se um deixar a sua parte para o outro, desculpe-me a expressão, mas está ferrado. Porque quem deu a sua parte, permanece com a carência. E o outro, inconscientemente, assume o papel de culpado, porque recebeu mais do que merecia. É, as regras sistêmicas são muito diferentes que as “crenças sociais” sobre relacionamento.

ALEX POSSATO