O MOVIMENTO DE AMOR INTERROMPIDO



Uma dinâmica importante nos conflitos de casal se mostra quando há um movimento precocemente interrompido no amor dirigido à mãe. Isto não constitui, em sua origem, um conflito sistêmico, e só se torna tal quando é transferido para a relação conjugal. Uma interrupção no movimento amoroso origina-se na criança pequena quando ela é separada da mãe nos primeiros anos de vida, geralmente por força do destino, por exemplo, porque a mãe teve de ficar hospitalizada por várias semanas depois do nascimento, ou porque a criança de um ano precisou ser internada para uma operação, ou porque a mãe morreu quando a criança tinha três anos. Trata-se portanto de uma separação prematura que sofre a criança, principalmente em relação à sua mãe, às vezes também ao seu pai. O efeito que isso terá sobre a vida posterior da criança, e principalmente sobre os seus relacionamentos, será tanto maior quanto mais existencialmente ameaçada esteve a criança e quanto mais ela teve de abandonar a esperança de recuperar a proximidade da mãe.
Quando um homem ou uma mulher olha para o seu parceiro, sente o desejo de amá-lo e de ser amado por ele. Entretanto, ao se aproximar do parceiro, surge na pessoa, como num reflexo, o antigo medo da criança, de perder sua mãe e de não poder mais confiar nela, junto com uma grande dor e uma profunda resignação. Esse padrão é transferido inconscientemente ao parceiro e uma luz vermelha se acende: “Não quero sofrer isso de novo. Prefiro me retirar logo disso”. Entretanto, como todo mundo gosta de amar e de ser amado, a pessoa volta a tomar um impulso e a procurar o parceiro. Mas, logo que se chega ao amor, emerge novamente o medo da criança pequena e a pessoa torna a recuar. Isto foi descrito por Bert Hellinger como o círculo vicioso da neurose. A maior parte dos chamados conflitos de proximidade e distância têm assim sua origem num movimento precocemente interrompido em direção à mãe. Esses conflitos não podem ser resolvidos na própria relação conjugal, mas exigem que a criança presente no adulto, numa experiência retroativa, seja acolhida com força e amor por sua mãe ou por um terapeuta que a substitua. Isso exige uma experiência de transe ou uma vivência corporal em que o adulto se sinta de novo como uma criança pequena e que, como uma criança pequena, experimente um abraço que lhe permita atravessar a dor e recuperar a confiança em sua mãe.
Quando, na terapia de casal, trazemos assim à luz, de uma forma liberadora, fatos passados, isso ajuda o “amor à segunda vista” (Bert Hellinger), a saber, as dimensões mais profundas de um amor dotado de visão. Representa uma ajuda para o futuro e para um amor bem sucedido do casal (mesmo que, no caso de uma separação, apenas para o tempo em que ainda havia amor). Uma compreensão retroativa só tem sentido na medida em que abre para o casal novos passos para o futuro, no sentido do título de um dos livros de Bert Hellinger: “Vamos em frente”.