Com
pacientes de câncer, muitas vezes podemos ver que querem morrer. Dizem que
querem lutar contra o cancro, mas profundamente, bem no íntimo, eles querem
morrer. Uma dinâmica muito comum que vi com mulheres, foi que elas estavam em
guerra com as mães. Consequentemente, em geral, se eu tivesse que fazer uma
constelação com uma mulher que tivesse câncer no seio, eu a colocaria em frente
à sua mãe. Recentemente, nós tivemos uma constelação onde fizemos isso. A
mulher que tinha câncer ajoelhou-se na frente da sua mãe, e a mãe não a viu.
Passou pela sua filha e olhou mais para frente, olhou para o chão. Numa
constelação familiar, se alguém olhar para o chão, quer dizer que está olhando
para uma pessoa morta. Assim eu selecionei um representante e deixei-o
colocar-se por trás da filha, em frente da mãe. Ele fechou as mãos com força.
Então eu perguntei à mulher doente: "O que aconteceu na família?" Ela
disse que o irmão da sua mãe tinha assassinado a sua amante. Da constelação
poderíamos concluir que a sua mãe soube disso e certamente o tinha consentido. Agora
o que acontece no íntimo de uma pessoa como aquela? Sente-se culpada, e sabe,
dentro do seu coração, ela também ganhou com a morte. Mas então, a filha diz no
seu coração, "Eu morro no teu lugar." Por isso é que desenvolveu o
câncer. Este era o segredo profundo da sua doença.
Mas
voltando ao exemplo das mulheres e das suas mães. Muito frequentemente eu faço
um exercício muito simples. Digo-lhes que devem ajoelhar-se na frente da sua
mãe e curvar-se até o chão em respeito para com elas. Muitas mulheres que têm
câncer no seio não conseguem fazer isto. Há uma resistência tão forte para
honrar a própria mãe que se torna evidente, que é mais fácil morrer do que
honrar a mãe. Naturalmente, você não pode dizer que cada mulher que tem câncer
no seio tem dificuldades com a sua mãe. Isto é errado. Mas há muitos casos onde
eu vi isso. Cito outro exemplo. Uma vez fiz um seminário somente para pacientes
de câncer, e trabalhei com uma mulher que não se concentrou e eu tive de parar
a constelação. Em consequência, ficou zangada comigo, mas muito frequentemente,
quando eu paro uma constelação, é uma intervenção terapêutica. No dia seguinte,
ela estava completamente mudada e disse que tinha algo a relatar. Ela tinha
recordado que, imediatamente depois de ter sido operada ao seio, quando estava
justamente acordando da anestesia, a sua filha lhe disse, "Mãe, ouvi duas
crianças chorando lá na nossa casa." Ela tinha trazido duas bonecas e
colocou-as no ombro da sua mãe dizendo, "Eu te trago estas duas
crianças." A mulher soube imediatamente quem elas eram. Tinha abortado
duas crianças. Então nós pudemos fazer a sua constelação. Agora ela podia olhar
estas crianças e dar-lhes um lugar no seu coração. Alguns anos mais tarde, encontrei
ela outra vez e disse-me, "Estou me sentindo muito bem."
Bert Hellinger