Genes, ambiente, vida por Bruce Lipton


Jamais me esquecerei de algo que vim a saber em 1967, quando aprendi a clonar células-tronco na faculdade. Levei décadas para perceber quanto aquela informação tão simples poderia me ajudar na minha carreira e na minha vida pessoal. O grande cientista Irv Konigsberg, meu professor e mentor, foi um dos primeiros biólogos celulares a dominar a arte da clonagem de células-tronco. Ele explicou-nos que quando há algo de errado com as células que estudamos devemos analisar primeiro o ambiente em que elas se encontram e não apenas as células para descobrir a causa do problema. Sempre me lembrava do conselho de Irv. Toda a vez que estabelecia um ambiente saudável para a cultura de células elas se tornavam mais resistentes. Mas se algo no ambiente não era favorável, elas logo se enfraqueciam. Bastava fazer alguns ajustes para tornar o ambiente mais propício e elas voltavam a se revitalizar. 

A maioria dos biólogos, porém, não sabia desse detalhe sobre técnicas de cultura de células e passaram a dar ainda menos importância ao fato após a revelação de Watson e Crick sobre o código genético do DNA. Se alguém acredita que os genes controlam a sua vida e que são programados desde o momento da concepção, tem uma boa desculpa para se considerar uma vítima da hereditariedade. “Não tenho culpa de ter maus hábitos. Não posso mudar a minha tendência de deixar tudo para a última hora… São as minhas características genéticas!” 

Imagine o número de indivíduos que se consideram verdadeiras bombas-relógio, com medo de que o cancrose desenvolva no seu organismo a qualquer momento só porque isso aconteceu com os seus pais, irmãos ou tios. Outros atribuem a sua falta de saúde não apenas a uma combinação de fatores mentais, físicos, emocionais e espirituais, mas também a falhas no mecanismo bioquímico de seu organismo. O que pensar então das manchetes sensacionalistas anunciando a descoberta de um gene para cada doença, de depressão a esquizofrenia? Mas leia esses artigos com calma e você vai descobrir outra verdade por trás deles. Os cientistas associaram diversos genes a diferentes doenças e características, mas ainda não chegaram à conclusão de que um simples gene possa ser a fonte delas.

Se fosse assim, não se poderia deixar a chave no carro porque ela iria querer passear sozinha com ele quando você não estivesse por perto. A chave está “relacionada” ao controle do carro; a pessoa que a tem nas mãos tem controle sobre ele. Da mesma maneira, determinados genes estão relacionados ao comportamento de um organismo e às suas características. No entanto, permanecem em estado passivo a menos que uma força externa aja sobre eles. Na verdade, a ideia de que os genes controlam a biologia é apenas uma suposição jamais comprovada e até questionada pelas descobertas científicas mais recentes. Nijhout afirma que o controle genético se tornou uma metáfora na nossa sociedade. Queremos acreditar que os engenheiros geneticistas são os novos mágicos da medicina e que vão curar as doenças com a mesma maestria de génios como Einstein ou Mozart.


Claro, o meu professor não era tão rude quanto James Carville, responsável pela campanha de Bill Clinton na época, e que elegeu a frase “é a economia, sua besta” como mantra da campanha para a eleição de 1992. Mas os biólogos celulares bem que poderiam ter colocado placas com o aviso “é o ambiente, sua besta” na parede dos seus laboratórios de estudo, exatamente como fizeram os partidários de Clinton. Na época não percebi, mas com o tempo comecei a ver que se trata de uma questão-chave para compreendermos a essência da vida. Até mesmo Charles Darwin admitiu, no final da sua vida, que a sua teoria evolucionista havia subestimado o papel do meio ambiente. Numa carta que escreveu para Moritz Wagner em 1876, ele declara (Darwin, F 1888): “Na minha opinião, o maior erro que cometi foi não dar a devida atenção à ação do ambiente sobre os seres, como no caso dos alimentos, clima etc. independentemente do fator seleção natural… Quando escrevi A origem das espécies, e mesmo nos anos seguintes, jamais percebi as evidências da ação direta do meio ambiente; hoje elas são muito claras para mim”. Mas os cientistas que seguem a teoria de Darwin continuam a cometer o mesmo erro. Na verdade, o problema dessa indiferença dos cientistas em relação ao ambiente é a ênfase exagerada da “natureza” sob o aspecto do determinismo genético, ou seja, a crença de que os genes “controlam” a biologia. Isso custou ao governo centenas de dólares em pesquisas, como mostrarei mais adiante, porém o mais importante é que essa teoria mudou a nossa maneira de pensar sobre a vida.
Desde que se iniciou a era da genética, temos sido levados a crer que não há como lutar contra aquilo que fomos programados para ser. O mundo está cheio de pessoas com medo de que os seus genes possam se voltar contra elas. Os seus filhos não se comportam bem? A primeira reação dos médicos é corrigir o seu “desequilíbrio químico” por meio de medicamentos em vez de tentar descobrir o que há de errado com seu corpo, mente ou espírito. Claro, algumas doenças como coreia de Huntington, talassemia e fibrose cística são de origem genética. Mas distúrbios desse tipo afetam menos de dois por cento da população. A maioria das pessoas vem a este mundo com uma carga genética capaz de lhes proporcionar uma vida muito feliz e saudável.
Doenças que ainda não têm cura como a diabetes, problemas cardíacos e o cancro podem destruir a vida de muitos, mas não são resultado de um único gene e sim de complexas interações entre genes múltiplos e fatores ambientais. A confusão ocorre porque a mídia deturpa o sentido de dois termos muito importantes: correlação e causa. Uma coisa é dizer que um fator está relacionado a uma doença, outra é dizer que ele é a causa dela, pois isso envolve uma ação direta. Se eu lhe mostrar um molho de chaves e disser que uma delas “controla” o meu carro, você vai achar que faz todo o sentido, pois sabe que é necessário usar uma chave para dar partida num automóvel. Mas será que a chave realmente “controla” o carro? Mas que força é essa que pode ativar os genes? Uma resposta muito interessante para essa questão foi publicada num ensaio de 1990 intitulado “As metáforas, o papel dos genes e o desenvolvimento”, de H. F. Nijhout (Nijhout, 1990). O autor apresenta evidências de que os genes que controlam a biologia se repetem com tanta frequência e por períodos tão longos de tempo que os cientistas se esqueceram de que se trata apenas de uma hipótese, não de verdade comprovada.
Mas metáforas não combinam com verdades científicas. Nijhout apresenta a verdade: “Quando determinada característica de um gene se faz necessária, o ambiente gera um sinal que o ativa. O gene não se manifesta por si só”. Ou seja, quando se trata de controle genético o que fala mais alto “é o ambiente, sua besta”.
FONTE: Bruce H. Lipton,  A BIOLOGIA DA CRENÇA