Sentimentos intensos como raiva
originam-se frequentemente num ponto em que um movimento foi interrompido
precocemente, no qual a criança não pode prosseguir. Essa raiva protege a
criança da dor do amor. A raiva aqui é somente o outro lado do amor. Se, na terapia, deixamos que se
expresse a raiva, repetimos aquilo que aconteceu outrora, porque o movimento em
direção ao pai ou à mãe permanece interrompido. A experiência é repetida, mas
não fica repetida com isso.
Através dessa raiva nós nos colocamos
ilusoriamente acima de nossos pais. Alguns dizem em tal exteriorização de
sentimento ao pai ou à mãe: “eu mato você”. Acreditam, então, em primeiro
lugar, que o fizeram e, em segundo lugar, que com isso teriam alcançado algo.
Não alcançaram nada com isso. Frequentemente se castigam por isso. Quando na terapia alguém quer ficar
com raiva dessa forma é indicado interromper, porque a raiva é nesse momento um
sentimento de defesa. Quando ele, então, não pode mais expressar a sua raiva,
chega a uma ligação com o sentimento que está por trás disso, isto é, com o
amor e a dor. Esses dois sentimentos estão ligados. Esse amor é muito mais
doloroso que a raiva. É o sentimento mais doloroso que existe, porque é
vivenciado junto com a sensação de total impotência. Quando expresso a raiva,
nego a minha impotência. Não a sinto de forma nenhuma.
A palavra decisiva nesse ponto é que
a pessoa atingida diga: “Por favor”. É possível sentir aí a força em
contraposição ao acesso de raiva. “Papai, por favor”. “Mamãe, por favor”. Que
força está contida aí, e que dor. Existem situações nas quais uma
criança se sentiu abandonada, talvez porque por engano tenha sido deixada em
algum lugar. Então a criança vivencia um desespero. Quando se deixa expressar,
na terapia, esses sentimentos de desespero, tem um bom efeito. Não são defesas
do sentimento vivenciado por ter sido abandonado, mas correspondem exatamente a
ele. Isso ajuda, então.
Bert Hellinger