Apesar da diversidade, os membros
de qualquer grupo ou sociedade funcionam como TODOS mais ou menos coesos e auto organizadores. Além de partilhar
suas características comuns como o parentesco, por ex., o campo impõe aos seus
membros uma variedade de expectativas, obrigações, regras e leis morais. Queira ou não, a família atual
está para sempre vinculada ao sistema de origem do homem e da mulher. O
conceito de lealdade, desenvolvido por Ivan Boszormenyi-Nagy, estabelece
padrões de identificação (inconsciente) individual e sistêmico relacionado ao
grupo a que se pertence.
O sentimento de lealdade, pensamentos e motivações de
cada membro do grupo faz emergir o conceito de ‘justiça familial’. Quando essa justiça não está presente,
manifesta-se “a injustiça, a má fé, a
exploração de uns por outros, dando lugar ao abandono, a desforra, a vingança e
até a doença e o infortúnio que se repete” (Schützenberger, 1997). A maioria das dificuldades
pessoais, assim como problemas de relacionamento são resultados de desordens no
sistema familiar. Quando cada um dos seus membros cuida de si sem interferir no destino do
outro, encontra seu lugar e assume seu papel na vida, aceitando com confiança o
próprio destino. Em palestra proferida em São Paulo (agosto de 1999), Bert
Hellinger afirmou que “o grupo familiar se comporta
como se fosse dirigido por uma instância comum e superior partilhada por todos,
e que atua de modo amplamente inconsciente”.
O psiquiatra C. G. Jung observou
que um sofrimento recalcado irradia-se através do ambiente e do tempo, afetando
não apenas os filhos, mas várias gerações, expressando-se como uma memória
inconsciente, seja a nível individual ou coletivo, reverberando no presente e
se expressando como neuroses e algumas psicoses. Tendo sido missionário na África
na época da apartheid, Hellinger percebeu que uma consciência leve ou pesada
independe da noção de certo e errado: fala da natureza (e da necessidade) dos
vínculos. Observou que os grupos humanos se movem dentro de certas ordens
pré-definidas. Num sistema harmônico, as interações entre os indivíduos do
sistema entre si e com outros sistemas acontecerão de forma que as necessidades fundamentais determinadas
pelos campos mórficos sejam
reconhecidas e honradas, a saber:
“A necessidade
de pertencer, isto é, de vinculação”, isto é, todos (do sistema) têm o
mesmo direito a pertencer;
“A necessidade de ordem” (hierarquia)
de inclusão no sistema, dando “a segurança
proporcionada pela convenção e previsibilidade sociais”;
“A necessidade de preservar o equilíbrio
entre o dar e o receber”, que é a equivalência entre o que se recebe (ou se
toma) e o que se dá.
Dra. Laís de Siqueira Bertoche