O trabalho das constelações
retoma, de uma forma não mágica e realizável pelo homem moderno, antigos ritos
xamânicos em favor da paz entre vivos e mortos. Como é tocante quando numa
constelação, uma mulher adulta se deita nos braços da mãe que perdeu quando
criança em virtude de um acidente! As emoções da criança, talvez bloqueadas
pela carência e pela dor, passam a fluir, e o amor e a despedida podem ser
agora realmente vividos. Como se sentem aliviados os representantes de mortos
que são reconhecidos pela primeira vez como pertencentes à família, ou dos que,
porque honrados em seu sofrimento, se livram de uma maldição! Como se sentem
liberados os representantes de criminosos ou de vítimas quando sua condição de
culpados ou de vítimas já pode ficar com eles, e os vivos renunciam a se
intrometer nisso! Como se sentem redimidos os representantes de mortos quando
se sentem acolhidos entre outros mortos e já podem realmente ser acolhidos na
“grande morte”!
Não é de hoje que tendemos a
reprimir a morte e as ligações carregadas de dívidas que por amor, medo ou dor
mantemos com os mortos e com as histórias de suas vidas. Isso já é de longa
data, conhecido pela psicoterapia. No decurso de nossa evolução cultural,
perdemos o acesso a muitas formas rituais e sociais de superação da morte e de
respeito pelos antepassados. Mesmo sem as constelações familiares, e muito
tempo antes delas, existe um profundo anseio de lidar com o morrer, a morte e
os mortos de uma forma liberadora e pacificadora. E para isso, as pessoas
sempre precisaram de um apoio, por exemplo, através de um sacerdote ou com a
ajuda da psicanálise ou da assistência ao morrer. Nesse ponto, o trabalho das
constelações assume uma necessidade profunda e supre talvez uma lacuna de
rituais e de luto coletivo.
Além disso, as constelações abrem
a perspectiva para o enquadramento psíquico maior do encontro com a morte e com
os mortos na alma. Elas fazem ver o fato individual enquanto enquadrado no
contexto e na história da família, ou de um grupo de camaradas que viveram
juntos coisas terríveis na guerra, ou no destino comum de perpetradores e
vítimas, e sempre transcendendo a morte. Ou elas abrem a alma para a “grande
morte”. Isto só parece estranho e até mesmo absurdo quando é encarado de longe
e não no contexto da contemplação e da experiência imediata. Para os clientes
envolvidos e os participantes de grupos, o encontro entre vivos e mortos
geralmente se realiza como que naturalmente e é muito emocionante e curativo. E
mesmo que não saibamos ao certo o que acontece nas constelações nos domínios
fronteiriços dos vivos e dos mortos, podemos perceber o seu efeito e nos apoiar
nisso. Neste particular, as constelações atuam como uma “cura de almas”.
Jakob Robert Schneider