Amar e ser amado é o que todos desejamos do berço à velhice, mas nem sempre o caminho está aberto para viver o mais básico dos sentimentos. Segundo Bert Hellinger, teólogo e terapeuta alemão, há como desemaranhar os laços afetivos e refazer o fluxo do amor com mais consciência e menos ilusão. ”É suficiente ter um bom parceiro, não precisa ser perfeito, pois o que é perfeito não se desenvolve, já está pronto. A imperfeição é estimulante e permite às duas pessoas crescerem juntas”, defende o terapeuta alemão Bert Hellinger, 78 anos, autor do livro Para que o Amor Dê Certo (Ed. Cultrix). Há mais de três décadas ele trabalha fazendo atendimentos individuais e para casais e, baseado nessa vasta experiência, sistematizou o método chamado constelações familiares, que busca primeiramente restabelecer o fluxo do amor entre pai, mãe e irmãos para depois rever os laços com parceiros amorosos (veja boxe nas próximas páginas). Bert desfaz qualquer imagem de amor baseada em ilusões – ele acredita que esse sentimento pode se expandir na medida em que reconhecemos e agradecemos o que cada relacionamento acrescentou a nossa vida.
Em paz com o passado
Em sua terapia do amor, Hellinger coloca como imprescindível reconhecer a aceitação do afeto experimentado em relações anteriores: um novo amor só poderá ser bem-sucedido se houver o reconhecimento de tudo o que nos foi dado pelos demais relacionamentos. A primeira relação amorosa tem influência sobre todas as outras, constata. Segundo o terapeuta, a rejeição consciente ou inconsciente de amores passados bloqueia a força de um novo amor. “Se você amar alguém depois, não poderá agir como se não tivesse vivido outro amor antes. Se aceitar o que viveu, com respeito aos antigos parceiros, as próximas relações poderão ser mais enriquecedoras do que se você for vivê-las como se fosse a primeira.”
Individualidade
O respeito do espaço de cada um é outro aspecto fundamental para o sucesso de um relacionamento, assinala Hellinger. Não por acaso, ele diz que para amar é preciso aceitar duas solidões, a sua própria e a do outro. “Numa relação deve haver respeito por segredos. Só assim ela terá uma chance. É ridículo querer que se conte tudo ao outro. Se houver respeito pelos segredos, as pessoas acabarão revelando espontaneamente coisas importantes. Mas não se pode agir como um intruso na alma da outra pessoa, mesmo que o relacionamento seja duradouro.”
Sexo é essencial
Além do amor e da disponibilidade para a convivência, o terapeuta cita o sexo como o terceiro elemento essencial na relação de um casal. “É a base de tudo. É fácil encontrar alguém, ir para cama com ele e, na manhã seguinte, não saber o que fazer. Você não sente amor, vocês não vão ficar juntos, é somente sexo.” Segundo Hellinger, para ser completo, o sexo tem de ser aprendido, exercitado e combinado ao amor. “Muitas vezes, quando as pessoas fazem sexo, fecham os olhos. Elas não estão realmente em contato com o outro, não mais do que consigo mesmas. Não tenho nada contra, mas, quando o amor também atua, as pessoas são capazes de ficar juntas e partilhar uma vida comum, o que é algo bastante diferente”.
Laços de família
Os primeiros laços de amor são atados na família, e Bert Hellinger sustenta que todos os familiares estão ligados por uma “grande alma comum”. Essa “consciência coletiva comum” é transmitida por sucessivas gerações, em uma corrente de influências, incluindo experiências dolorosas vivenciadas pelo grupo. Segundo ele, toda terapia deve trabalhar com a fonte e, para cada pessoa, a fonte primeira são os pais. “Quem está separado afetivamente de seus pais está separado de sua fonte”, resume. Por isso, Hellinger não aceita nenhuma queixa aos pais em seu trabalho terapêutico. “Você pode olhar para seus pais de diferentes formas. Durante sua infância, podem ter ocorrido experiências dolorosas, que provocaram certos ressentimentos e até afastamentos. Mas seus pais não são melhores ou piores do que os outros. Aliás, pais perfeitos são os piores. O crescimento só poderá ocorrer com certas resistências e dificuldades. Quando um paciente reclama de seus pais, está fazendo-os responsáveis por sua própria incapacidade”, nota.
Felicidade existe?
Hellinger conclui: “Não há um modelo a ser seguido para alcançar a felicidade. Existe a felicidade das crianças, que brincam esquecidas de si mesmas, ou dos apaixonados. Tudo isso é muito bonito. Mas, nesse sentido, realização não é felicidade. É estar em harmonia com a grandeza, mas também com o sofrimento e com a morte. Isso possibilita um reconhecimento profundo, dá peso e serenidade. É algo bem tranqüilo. É a felicidade como conquista. E não tem a ver com ficar esquecido. Tem a ver com a força interior”.
Tudo começa na família
Muitos dos problemas de relacionamento (do casal e com os filhos) que acontecem no presente, na verdade têm a ver com laços familiares antigos, com a forma como nossos pais, avós, bisavós lidaram com a exclusão, a doença, a morte ou o esquecimento de entes muito próximos. Essa é a base da terapia das constelações familiares, resultado da experiência e da observação do alemão Bert Hellinger em seu trabalho de atendimento individual e a casais durante mais de três décadas.
Bert Hellinger, terapeuta alemão