A DOR DOS EXCLUÍDOS


O argumento que mais tocou o meu coração desde que iniciei os estudos sobre Constelações Familiares foi sobre a dor dos excluídos. O enorme desequilíbrio que desencadeia ondas de dor chega a durar séculos num sistema familiar é justamente a exclusão de um membro. Quando nascemos, a nossa mãe nos dá a vida e com ela o nosso “campo” energético ou familiar. Por toda a nossa vida, será nessa “frequência” que viveremos, sentiremos e agiremos. Esse campo vibra em ressonância com os campos de todos os pertencentes a família de origem. Então, excluir, desprezar, desconsiderar, negar a existência de um dos seus membros da família é um ato gravíssimo que ressoa em todo os participantes daquela constelação, atingindo os campos dos envolvidos de forma inexorável e trágica. A exclusão tem um raio de ação devastador nas vidas dos membros que nem conhecem o fato. E esse é um dado importante: muitas pessoas são afetadas pela exclusão de um antepassado que nem conheceram o nome ou a existência.

Se a exclusão é de um irmão ou irmã que o pai ou a mãe tiveram fora do casamento e esconderam o fato por anos, causando dor e sofrimento na criança negada, o impacto será enorme. Nas constelações observa-se que nesses casos um irmão se afasta da família (com o seu afastamento a alma honra a irmã excluída) ou entra em conflito com o genitor que a excluiu. Em outros casos, vários membros de uma família que excluiu um parente emigram para países de outros continentes, sem ter consciência que aquele ato é uma enorme demonstração de amor para com o excluído. Essas pessoas que se sentiram impelidas a viver muito longe de sua família de origem não conseguem sentir alegria e prazer na cidade onde seus familiares também residem. Forças invisíveis os guiam para muito longe, para compensar a dor e o sofrimento daquele que um dia foi mantido longe dos corações dos demais membros da família. Sua alma é impelida a honrar a dor do excluído.

Noutros casos a lealdade entre as almas das irmãs e irmãos se estende ainda mais, fazendo com que uma irmã não gere filhos enquanto a outra excluída não encontra o seu lugar no sistema familiar. A lealdade invisível entre as almas dos irmãos é enorme e eles abrem mão da própria felicidade para que no sistema seja compensada a dor do outro irmão.

Tania Rocha

PARA QUE O AMOR DÊ CERTO


Amar e ser amado é o que todos desejamos do berço à velhice, mas nem sempre o caminho está aberto para viver o mais básico dos sentimentos. Segundo Bert Hellinger, teólogo e terapeuta alemão, há como desemaranhar os laços afetivos e refazer o fluxo do amor com mais consciência e menos ilusão. ”É suficiente ter um bom parceiro, não precisa ser perfeito, pois o que é perfeito não se desenvolve, já está pronto. A imperfeição é estimulante e permite às duas pessoas crescerem juntas”, defende o terapeuta alemão Bert Hellinger, 78 anos, autor do livro Para que o Amor Dê Certo (Ed. Cultrix). Há mais de três décadas ele trabalha fazendo atendimentos individuais e para casais e, baseado nessa vasta experiência, sistematizou o método chamado constelações familiares, que busca primeiramente restabelecer o fluxo do amor entre pai, mãe e irmãos para depois rever os laços com parceiros amorosos (veja boxe nas próximas páginas). Bert desfaz qualquer imagem de amor baseada em ilusões – ele acredita que esse sentimento pode se expandir na medida em que reconhecemos e agradecemos o que cada relacionamento acrescentou a nossa vida.

Em paz com o passado

Em sua terapia do amor, Hellinger coloca como imprescindível reconhecer a aceitação do afeto experimentado em relações anteriores: um novo amor só poderá ser bem-sucedido se houver o reconhecimento de tudo o que nos foi dado pelos demais relacionamentos. A primeira relação amorosa tem influência sobre todas as outras, constata. Segundo o terapeuta, a rejeição consciente ou inconsciente de amores passados bloqueia a força de um novo amor. “Se você amar alguém depois, não poderá agir como se não tivesse vivido outro amor antes. Se aceitar o que viveu, com respeito aos antigos parceiros, as próximas relações poderão ser mais enriquecedoras do que se você for vivê-las como se fosse a primeira.”

Individualidade

O respeito do espaço de cada um é outro aspecto fundamental para o sucesso de um relacionamento, assinala Hellinger. Não por acaso, ele diz que para amar é preciso aceitar duas solidões, a sua própria e a do outro. “Numa relação deve haver respeito por segredos. Só assim ela terá uma chance. É ridículo querer que se conte tudo ao outro. Se houver respeito pelos segredos, as pessoas acabarão revelando espontaneamente coisas importantes. Mas não se pode agir como um intruso na alma da outra pessoa, mesmo que o relacionamento seja duradouro.”

Sexo é essencial

Além do amor e da disponibilidade para a convivência, o terapeuta cita o sexo como o terceiro elemento essencial na relação de um casal. “É a base de tudo. É fácil encontrar alguém, ir para cama com ele e, na manhã seguinte, não saber o que fazer. Você não sente amor, vocês não vão ficar juntos, é somente sexo.” Segundo Hellinger, para ser completo, o sexo tem de ser aprendido, exercitado e combinado ao amor. “Muitas vezes, quando as pessoas fazem sexo, fecham os olhos. Elas não estão realmente em contato com o outro, não mais do que consigo mesmas. Não tenho nada contra, mas, quando o amor também atua, as pessoas são capazes de ficar juntas e partilhar uma vida comum, o que é algo bastante diferente”.

Laços de família

Os primeiros laços de amor são atados na família, e Bert Hellinger sustenta que todos os familiares estão ligados por uma “grande alma comum”. Essa “consciência coletiva comum” é transmitida por sucessivas gerações, em uma corrente de influências, incluindo experiências dolorosas vivenciadas pelo grupo. Segundo ele, toda terapia deve trabalhar com a fonte e, para cada pessoa, a fonte primeira são os pais. “Quem está separado afetivamente de seus pais está separado de sua fonte”, resume. Por isso, Hellinger não aceita nenhuma queixa aos pais em seu trabalho terapêutico. “Você pode olhar para seus pais de diferentes formas. Durante sua infância, podem ter ocorrido experiências dolorosas, que provocaram certos ressentimentos e até afastamentos. Mas seus pais não são melhores ou piores do que os outros. Aliás, pais perfeitos são os piores. O crescimento só poderá ocorrer com certas resistências e dificuldades. Quando um paciente reclama de seus pais, está fazendo-os responsáveis por sua própria incapacidade”, nota.

Felicidade existe? 

Hellinger conclui: “Não há um modelo a ser seguido para alcançar a felicidade. Existe a felicidade das crianças, que brincam esquecidas de si mesmas, ou dos apaixonados. Tudo isso é muito bonito. Mas, nesse sentido, realização não é felicidade. É estar em harmonia com a grandeza, mas também com o sofrimento e com a morte. Isso possibilita um reconhecimento profundo, dá peso e serenidade. É algo bem tranqüilo. É a felicidade como conquista. E não tem a ver com ficar esquecido. Tem a ver com a força interior”.

Tudo começa na família

Muitos dos problemas de relacionamento (do casal e com os filhos) que acontecem no presente, na verdade têm a ver com laços familiares antigos, com a forma como nossos pais, avós, bisavós lidaram com a exclusão, a doença, a morte ou o esquecimento de entes muito próximos. Essa é a base da terapia das constelações familiares, resultado da experiência e da observação do alemão Bert Hellinger em seu trabalho de atendimento individual e a casais durante mais de três décadas.


Bert Hellinger,  terapeuta alemão

1° TREINAMENTO EM CONSTELAÇÃO SISTÊMICA EM FLORIANÓPOLIS 2012 - 2013


A visão sistêmica amplia a possibilidade de solução de sintomas e padrões de comportamento indesejáveis. Ela abre espaço aos vínculos e às situações significativas do passado que influenciam o presente de maneira determinante. Entender e vivenciar como estas dinâmicas ocorrem possibilitam ao participante dar um grande passo para sua transformação e busca do fluxo e estrutura necessários para o sucesso em seu trabalho e destino. Desta forma, além de capacitar o participante em Constelações Sistêmicas, o treinamento propicia desenvolvimento pessoal e  um recurso a mais em todas as esferas da vida. Para isso, a equipe de professores e facilitadores da técnica tem experiência e reconhecimento internacional como um time de inovadores, com uma visão contemporânea nas áreas em que a técnica atua. O treinamento será realizado em 18 meses com oito módulos, além de fornecer suporte técnico e monitorar um grupo de estudos entre os módulos, possibilitando maior aprofundamento de cada tema.
O método sistêmico possibilita uma viagem intensa ao nosso interior, o que nos proporciona um salto de qualidade em todos os setores da nossa vida, tornando-a mais simples, mais fácil e melhor. Aprendemos a aproveitar integralmente cada momento, cada experiência, cada compartilhar, cada dificuldade, cada alegria. É uma técnica que possibilita um profundo e amoroso mergulho em si mesmo, a cura das feridas, o resgate daquilo que há de melhor em nós, tornando-nos aptos para se colocar diante do mundo e servir através de nosso trabalho e talentos. 
A visão sistêmica possibilita integrar a nossa história pessoal e as nossas experiências de vida, incluindo cada uma ao nosso capital emocional e relacional. Não podemos mudar o passado e o futuro ainda não chegou. É no presente que podemos integrar algo significativo que aconteceu de forma a nos dar força para a construção de um futuro melhor.
O caminho sistêmico proporciona o olhar para a solução dos entraves do caminho.
 www.treinamentosistemico.com.br

CONSTELAR: A CURA DAS ALMAS


O trabalho das constelações retoma, de uma forma não mágica e realizável pelo homem moderno, antigos ritos xamânicos em favor da paz entre vivos e mortos. Como é tocante quando numa constelação, uma mulher adulta se deita nos braços da mãe que perdeu quando criança em virtude de um acidente! As emoções da criança, talvez bloqueadas pela carência e pela dor, passam a fluir, e o amor e a despedida podem ser agora realmente vividos. Como se sentem aliviados os representantes de mortos que são reconhecidos pela primeira vez como pertencentes à família, ou dos que, porque honrados em seu sofrimento, se livram de uma maldição! Como se sentem liberados os representantes de criminosos ou de vítimas quando sua condição de culpados ou de vítimas já pode ficar com eles, e os vivos renunciam a se intrometer nisso! Como se sentem redimidos os representantes de mortos quando se sentem acolhidos entre outros mortos e já podem realmente ser acolhidos na “grande morte”!

Não é de hoje que tendemos a reprimir a morte e as ligações carregadas de dívidas que por amor, medo ou dor mantemos com os mortos e com as histórias de suas vidas. Isso já é de longa data, conhecido pela psicoterapia. No decurso de nossa evolução cultural, perdemos o acesso a muitas formas rituais e sociais de superação da morte e de respeito pelos antepassados. Mesmo sem as constelações familiares, e muito tempo antes delas, existe um profundo anseio de lidar com o morrer, a morte e os mortos de uma forma liberadora e pacificadora. E para isso, as pessoas sempre precisaram de um apoio, por exemplo, através de um sacerdote ou com a ajuda da psicanálise ou da assistência ao morrer. Nesse ponto, o trabalho das constelações assume uma necessidade profunda e supre talvez uma lacuna de rituais e de luto coletivo.

Além disso, as constelações abrem a perspectiva para o enquadramento psíquico maior do encontro com a morte e com os mortos na alma. Elas fazem ver o fato individual enquanto enquadrado no contexto e na história da família, ou de um grupo de camaradas que viveram juntos coisas terríveis na guerra, ou no destino comum de perpetradores e vítimas, e sempre transcendendo a morte. Ou elas abrem a alma para a “grande morte”. Isto só parece estranho e até mesmo absurdo quando é encarado de longe e não no contexto da contemplação e da experiência imediata. Para os clientes envolvidos e os participantes de grupos, o encontro entre vivos e mortos geralmente se realiza como que naturalmente e é muito emocionante e curativo. E mesmo que não saibamos ao certo o que acontece nas constelações nos domínios fronteiriços dos vivos e dos mortos, podemos perceber o seu efeito e nos apoiar nisso. Neste particular, as constelações atuam como uma “cura de almas”.

Jakob Robert Schneider

A TERAPIA DA RECONCILIAÇÃO


A psicoterapia é sempre um trabalho de mediação e reconciliação, embora várias tendências terapêuticas tenham enveredado pelo caminho oposto, enfatizando a autoafirmação, uma perspectiva unilateral da autonomia pessoal, a separação e a luta, por exemplo, contra os pais, os destinos funestos ou as pessoas consideradas más. Bert Hellinger, ousando chegar a limites extremos, trilhou imperturbavelmente um caminho que pode abrir dimensões novas (ou retomar antigas, de uma nova maneira) para a solução de conflitos e o trabalho de reconciliação. É o próprio processo da constelação que determina como iniciar a reconciliação ou o que é preciso observar em cada passo. O terapeuta limita-se a olhar e a escutar a alma do cliente e de sua família, abrindo espaço, com suas poucas intervenções, às forças que resolvem os conflitos e atuam de forma reconciliadora. Seja qual for o caso, abuso ou assassinato de filhos, trapaça financeira, paternidade clandestina, traição, atrocidades de guerra, extermínio de judeus ou terrorismo de qualquer espécie, as constelações mostram uma força incrivelmente reconciliadora e liberadora, em que pesem as imperfeições e as tentativas frustradas, superficiais ou mesmo traumáticas dos consteladores.

Embora Bert Hellinger e os consteladores não estejam sozinhos nesse trabalho de reconciliação que honra tanto as vítimas quanto os criminosos, o significado do “amor aos inimigos” dificilmente é experimentado no domínio da psicoterapia e do aconselhamento de forma tão sensível como nas constelações. Entretanto, não existem realmente diferenças objetivas entre bons e maus? E a observação de que tanto as vítimas quanto os criminosos estão a serviço de um destino maior, não abre ela as portas para a arbitrariedade e a injustiça no comportamento humano? Não podemos dizer que temos sempre uma resposta para isso, mesmo abstraindo de destinos concretos. Muitas vezes, porém, um primeiro passo importante para a reconciliação e a paz, apesar das oposições e mesmo da luta pela própria causa, que frequentemente é necessária, é reconhecermos o adversário como igual a nós e não nos considerarmos melhores do que ele.

Diariamente experimentamos que a realidade costuma ser maior do que nossa vontade. Mesmo quando criamos uma realidade, nem sempre podemos controlar as consequências de nossas ações. Um dos efeitos profundos do trabalho das constelações é que nos ajuda a confiar no desenvolvimento do sentimento humano, para além da culpa e das incriminações, renunciando a flagelar nossos semelhantes como desumanos. Só entramos em sintonia com a realidade quando também reconhecemos o funesto e o terrível como fazendo parte dela, e lhes damos um lugar. Muitos desenvolvimentos positivos recebem sua força e seu direcionamento desse reconhecimento e respeito pelo terrível.

Jakob Robert Schneider